De sinal de maldição, a Cruz transforma-se em sinal de bênção;
de símbolo de morte, em símbolo por excelência do amor que
gera a vida. " Ó Cruz, única Esperança!" - canta a liturgia.
Setembro - 2021
(Ano B)
“Fostes resgatados ... pelo precioso sangue de Cristo” (1Pd 1.19)
“Virgem Mãe tão santa e pura, vendo eu a tua amargura, possa contigo chorar”
“Também nós, pobres mulheres sem lágrimas, deixámos o Calvário com João, que a partir daquele momento me tomou consigo. E nos dias do luto, para me consolar contou-me muitas coisas acerca d’Ele. Também lhe contei aquelas coisas que, desde a Sua primeira infância, me tinham acontecido por causa d’Ele, e que eu conservava diligentemente no coração. E o contá-las e recontá-las era um modo para continuar a viver com Ele, a viver d’Ele.”
São as palavras finais de uma delicada autobiografia de Maria, que o escritor e sacerdote italiano Cesare Angelini, de Pavia, redigiu pouco antes de morrer e que foi publicada em 1976 com o título: A vida de Jesus narrada pela Sua Mãe. Recolhemos também nós aquele fio de recordações que Maria e João nos deixaram, sobretudo à volta daquela tarde de sexta-feira de uma data imprecisa dos anos 30 da era cristã, quando Maria e o “discípulo que Jesus amava”, identificado pela tradição com o próprio João evangelista, desceram daquele pequeno esporão rochoso da periferia da antiga Jerusalém, chamado, talvez por causa da sua configuração, Gólgota, em aramaico, “Crânio”, rebatizado pelos Romanos “Calvário”.
“Os rostos de Maria na Bíblia” - Gianfranco Ravas
A presença de Maria no Calvário projeta luz sobre o desígnio de Deus que entrelaçou num só ramo o sacrifício do Filho e o sacrifício da Mãe.
Um dos mistérios mais impressionantes da história da salvação é, de fato, a paixão e a morte de Jesus, Filho de Deus. De sinal de maldição, a Cruz transforma-se em sinal de bênção; de símbolo de morte, em símbolo por excelência do amor que gera a vida. “Ó Cruz, única Esperança!” - canta a liturgia.
Maria foi associada ao sacrifício do Redentor, através da sua desolação espiritual e da união do seu “sim” ao “sim” do Filho, nessa entrega confiante à vontade do Pai. Padeceu e morreu espiritualmente com o Filho, crucificada no seu coração imaculado. A mesma cruz chegava para ambos. “Se houver dois para uma cruz, sofre-se menos” - observava Santo Agostinho.
No meio das suas lancinantes dores, Jesus terá olhado para a sua Mãe como a segredar-lhe: “Eu bem sabia que estarias aí.” A presença da Mãe era um bálsamo derramado sobre as suas feridas; uma luz a rasgar as trevas que cobriam a terra; um tônico que o ajudava a exclamar: “Pai, nas tuas mãos me entrego.”
Foi então que o próprio Jesus a declarou Mãe do discípulo predileto. Assim, “cooperou de modo absolutamente singular - pela obediência, fé, esperança e ardente caridade - na obra do Salvador, para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, é nossa Mãe na ordem da graça”.
A atitude de Maria é uma lição permanente. A primeira discípula de Cristo torna-se mestra de vida cristã. O exemplo da Virgem Dolorosa ajuda-nos a compreender o Mistério da Cruz e a aceitar como Ela a dor salvífica em todas as suas formas.
“Maria introduz-nos nesse Mistério com sabedoria materna; prepara a nossa debilidade, começando por fazer-nos sentir o poder salvador do seu Filho. Guia-nos para o Mistério da Cruz não só como mestra, mas também como participante desse Mistério... Ensina-nos, a exemplo de Jesus, todas as virtudes necessárias para enfrentarmos e vencermos qualquer espécie de mal: a coragem, a fortaleza, a paciência, o espírito de sacrifício, a santa resignação à vontade divina. De modo único revela-se em Maria o mistério salvífico do sofrimento”. João Paulo II - (11-2-1988)
Maria convida todos os sofredores a erguerem os olhos para Jesus crucificado, Fonte da vida. Unidos à Senhora das Dores, adoramos este grande mistério que é o fato de Deus ter escolhido o caminho da Cruz para nos salvar. E como este grande mistério continua em ação até ao fim do mundo, Ela ajuda-nos, com o seu exemplo, a tomar cada dia a própria cruz e a completar no nosso corpo o que falta à Paixão do Redentor.
Nossa Senhora do Evangelho - “Fazei o que Ele vos disser” - Abílio Pina Ribeiro
“Maria é a Orante perfeita, figura da Igreja. Quando rezamos a Ela, aderimos com Ela ao plano do Pai, que envia seu Filho para salvar todos os homens. Como o discípulo bem-amado, acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus, que se tornou a Mãe de todos os viventes. Podemos rezar com Ela e a Ela. A oração da Igreja é acompanhada pela oração de Maria, que lhe está unida na Esperança” (C.I.C. 2679).
Setembro - mês dedicado à Bíblia
“Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1.22)
Dia 14 - Exaltação da Santa Cruz
Dia 15 - Nossa Senhora das Dores
PROPÓSITO DO MÊS
Meditar e refletir: “Como o discípulo bem-amado, acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus, que se tornou a Mãe de todos os viventes...”
INTENÇÃO MENSAL
Oferecimento do Santo Terço à Santíssima Virgem Maria, rezando: “A Cruz de Cristo seja nossa força e proteção”
PARA APROFUNDAR
Os rostos de Maria na Bíblia - Gianfranco Ravasi
Nossa Senhora do Evangelho - “Fazei o que Ele vos disser” - Abílio Pina Ribeiro
C.I.C. 2679 e 2682
*Ilustra o Tema Mensal - Setembro 2021(Ano B), a obra: “El Calvario” - de Roger Van Der Weyden.
M.C.V.F.
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