Setembro - 2018
(Ano B)
“Eis que este menino foi posto para a queda e para o
soerguimento de muitos em Israel, e como um sinal de contradição
e a ti, uma espada
transpassará tua alma
para que se revelem
os pensamentos íntimos de muitos corações.”
(Lc 2.34-35)
Logo depois da descrição
do nascimento e da circuncisão do Menino Jesus, Lucas narra a Sua primeira
visita ao Templo de Sião com Seus pais (2.22-40).
Maria obedece às normas
legais e rituais, a puríssima Mãe do Senhor, submete-se às prescrições da Lei (Lv
12) que, durante quarenta dias a seguir
ao parto, a mantinham afastada do Templo porque impura. No quadragésimo dia
tinha que se deslocar ao Templo e, no átrio das mulheres, diante da chamada
porta de Nicanor, era declarada pura por um sacerdote. Simultaneamente à
purificação da mãe, dava-se o resgate do primogênito, dado que este era
considerado pertencente a Deus e a Ele consagrado: “Consagra-Me todo o
primogênito, aquele que abre o ventre materno, entre os filhos de Israel, dos
homens e dos animais. Ele é para Mim” (Ex 13.2). ... A nossa atenção vai concentrar-se agora
em duas figuras, Simeão e Ana, que acorrem precisamente para ver aquela
família. A primeira é a de Simeão, “justo e temente a Deus” (v.25), que toma
nos braços o Menino Jesus. A outra
figura é Ana e a sua presença é como um sorriso. ...
Para a nossa leitura
mariana é particularmente importante o duplo oráculo (v 34-35), estriado pelo
sangue e pelo sofrimento, que Simeão pronuncia. Salvação e juízo, fé e
incredulidade confrontam-se à volta da figura de Cristo. É por isso que a
primeira profecia de Simeão se apresenta como um oráculo de “divisão”: “Ele (Cristo) está aqui para a ruína e a
ressurreição de muitos em Israel, sinal de contradição para que sejam revelados
os pensamentos de muitos corações.” ... O segundo oráculo, outro tanto
sombrio, é destinado a Maria: “Uma
espada trespassará a tua alma.” Estas palavras, modeladas sobre o cântico
da Palavra de Deus entendida como espada, presente no capítulo 14 de Ezequiel
(“Espada, percorre aquele país e faz massacres!”), deram origem a uma famosa
tipologia iconográfica mariana. Assim, num quadro de um mestre da Renânia, de
1370, conservado em Aquisgrana, uma espada desce da cruz de Jesus e trespassa o
coração de Maria. Depois - a partir do século XIII -, passa-se das cinco chagas
do Crucificado às cinco dores que, por razões de plenitude simbólica, se
tornarão sete: a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, a procura de Jesus no
Templo entre os doutores, a Via Sacra, a crucifixão, a deposição da cruz, a
sepultura.
A partir do séc. XV-XVI,
as sete dores são representadas em cenas coordenadas entre si e depois serão
sintetizadas simbolicamente, no seguimento do oráculo de Simeão, nas sete espadas
da Senhora das Dores, que se apresentarão no século XVII e XVIII. ...
Em tempos antigos, alguns
escritores cristãos, como Orígenes, pensavam na dúvida como um espinho cravado
na fé pura de Maria face aos insucessos do Filho. Outros aludiam à luta com a
serpente segundo a passagem do Genesis (3.15); outros ainda iam ao ponto de
imaginar uma morte violenta por martírio de Maria! Na realidade, o sentido tem
de ser procurado na linha da profecia precedente. Maria está no centro do
combate pró e contra Cristo. Também ela tem de experimentar a rejeição, a
morte: e todavia, quanto mais perder, mais encontrará. A cena que melhor
explica o valor simbólico desta espada é a cena que vamos considerar mais à
frente, quando Maria, aos pés da cruz, perdendo o Filho, perderá tudo, e
todavia tudo reaverá tornando-se a Mãe da Igreja, corpo do Cristo glorioso. A
lei da espada evangélica é a do perder para encontrar, da pobreza total para
obter a verdadeira riqueza, do abandono a Deus na fé para ser plenamente
saciado, consolado, salvo. ...
Amedeo de Losanna, monge
cisterciense e Bispo, falecido em 1159, na sua V Homilia escrevia que: “... o martírio do coração ultrapassa os
tormentos da carne. Coroa deste martírio do coração, é aquela que a Virgem
gloriosa aceitou quando, ao abraçar-se à cruz venerável da paixão do Senhor e
nosso Salvador, bebeu o cálice, se inebriou desta paixão e, ao esvaziar a
torrente da dor, suportou um sofrimento que ninguém poderá experimentar outro
igual”.
Os Rostos de Maria na Bíblia - Gianfranco
Ravasi
“O amor de Cristo é como uma seta eleita, que não só atingiu
a alma de Maria, como a trespassou, para que no seu seio virginal nem sequer a
mais pequena parte permanecesse vazia de amor e ela pudesse assim amar a Deus
com todo o seu ser e fosse realmente cheia de graça. Trespassou-a para chegar
até nós e todos nós fôssemos partícipes e Ela se tornasse a Mãe daquele amor do
qual Deus é o Pai.”
São Bernardo - Sermão 29 sobre o Cântico
PROPÓSITO DO MÊS
Meditar e refletir
“O martírio do coração
ultrapassa os tormentos da carne. Coroa deste martírio do coração, é aquela que
a Virgem gloriosa aceitou quando, ao abraçar-se à cruz venerável da paixão do
Senhor e nosso Salvador, bebeu o cálice, se inebriou desta paixão e, ao
esvaziar a torrente da dor, suportou um sofrimento que ninguém poderá
experimentar outro igual”.
INTENÇÃO MENSAL
Oferecimento do Santo
Terço à Virgem Maria, pela intenção Universal (Papa Francisco): “Para que os
jovens do Continente africano tenham acesso à educação e ao trabalho no próprio
país.”
Para aprofundar:
Os Rostos de Maria na
Bíblia -
Gianfranco Ravasi - Paulus
*A obra que ilustra o
Tema Mensal - Setembro 2018: “Pietà” - Michelangelo Buonarroti 1499 - Basílica
de São Pedro - Vaticano.
M. C. V. F.
www.virgemperegrina.org.br
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