Fevereiro - 2019
(Ano c)
“Todos os confins da Terra verão a
salvação do nosso Deus” (Is 52.10)
“Este menino vai ser causa tanto de
queda como de soerguimento
para muitos em Israel...” (LC 2.34)
“Quando se cumpriu o tempo da sua
purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-n’O a Jerusalém para O
apresentarem ao Senhor... O pai e a mãe do Menino estavam admirados com o que
se dizia d’Ele. Simeão disse a Maria, Sua mãe: “... uma espada trespassará a
tua alma” (Lc 2.22.33-35)
A
apresentação de Jesus no Templo e a purificação de Maria constituem o objeto da
luminosa “festa da Apresentação do Senhor” que a Liturgia católica celebra a 02
de fevereiro, como fecho de todo o arco natalício. Já em meados do século IV na
Igreja de Jerusalém se celebrava esta solenidade (em grego dita Hypapanté), de
cunho cristológico (no centro está o Menino Jesus), mas com uma intensa
conotação mariana: nas homilias comentava-se sobretudo o oráculo de Simeão
sobre a “...espada que trespassará Maria”.
A nossa
atenção vai concentrar-se agora em duas figuras, que acorrem precisamente para
ver aquela pobre família e o seu pequeno. A primeira é a de Simeão, “justo e
temente a Deus”, que toma nos braços o Menino Jesus. (...) Ele é por excelência o homem da expectativa,
da confiança, da esperança: “Ele esperava o conforto de Israel”, como todos os
fiéis do Senhor que “esperavam a redenção de Jerusalém”. Mesmo se “avançado em
anos”, ele mantém estreita a chama da esperança e a juventude do espírito
permanece nele. Por três vezes em Lc 2.25-27 é mencionada a seu respeito a
presença do Espírito: “O Espírito Santo estava nele... O Espírito Santo
tinha-lhe revelado... Impelido pelo Espírito...” Simeão inscreve-se, com razão,
entre os anawim, os “pobres” do Senhor, a quem associamos também Maria, tal
como a viúva Ana.
Homem
de espera e de esperança, homem do Espírito, Simeão é profeta no sentido
bíblico de conhecedor do mistério de Deus e revelador da Sua palavra. O seu
cântico é o Nunc dimittis, um hino
breve, quase uma jaculatória de abandono sereno e confiante em Deus,
pronunciado por um homem que sente próximo o fim e o acolhe com grande paz. É
por esta graça pacata que desde o século V o salmo de Simeão se tornou oração
da noite da Igreja nas Completas.
Mas o
cântico de Simeão não é um adeus melancólico à vida e ao seu dever cumprido; é,
pelo contrário, uma saudação alegre à Palavra de Deus que em Cristo se realiza
em plenitude, na esteira da bem-aventurança de Lc 10.23-24: “Felizes os olhos
que viram o que vós vedes. Digo-vos que muitos profetas e reis desejaram ver o
que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram”.
O Nunc dimittis é também um canto da
salvação universal, “preparada diante de todos os povos, luz para iluminar as
nações”. “Todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52.10).
Ao Seu Servo messiânico, o Senhor tinha dito: “Farei de ti a luz das nações
para que leves a minha salvação até aos confins da Terra” (Is 49.6). O anúncio
de Isaías cumpre-se agora em Cristo, e Simeão intui-o e proclama-o.
Para
nossa leitura mariana é particularmente importante o duplo oráculo, estriado
pelo sangue e pelo sofrimento, que Simeão pronuncia. Salvação e juízo, fé e
incredulidade confrontam-se à volta da figura de Cristo. É por isso que a
primeira profecia de Simeão se apresenta como um oráculo de “divisão”: “Ele
(Cristo) está aqui para a ruína e a ressurreição de muitos em Israel, sinal de
contradição para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações”.
Um dia
Jesus, quase decalcando as palavras de Simeão, dirá: “Pensais que vim trazer a
paz à Terra? Não, vo-lo digo, mas antes a divisão!” (Lc 12.51). Não se pode
permanecer neutro ou indiferente diante de Cristo: é uma pedra que pode
tornar-se pedra angular, mas que pode também fazer tropeçar e cair.
O
segundo oráculo, é destinado a Maria: “Uma espada trespassará a tua alma”. (...) A cena que melhor explica o valor
simbólico desta espada é a cena que vamos considerar mais à frente, quando
Maria, aos pés da cruz, perdendo o Filho, perderá tudo, e todavia tudo reaverá tornando-se a mãe da
Igreja, corpo do Cristo glorioso. A lei da espada evangélica é a do perder para
encontrar, da pobreza total para obter a verdadeira riqueza, do abandono a Deus
na fé para ser plenamente saciado, consolado, salvo.
Depois
da tenebrosa profecia de Simeão, surge a outra figura, Ana de oitenta e quatro
anos, filha de Fanuel, da tribo de Aser, e a sua presença é como um sorriso.
Ana é o retrato da velhice feliz e abençoada por Deus, ativa e cheia de fé e
esperança. Também Ana “servia Deus noite e dia com jejuns e orações... e falava
do Menino a quantos esperavam a redenção de Jerusalém”.
Enquanto
a família de Jesus se retira, transtornada pelos sinais misteriosos de que foi
testemunha, saudamos Maria que “medita
sobre todas estas coisas guardando-as no seu coração”.
Os Rostos de Maria na
Bíblia - Gianfranco Ravasi
Dia 11 de fevereiro - “Nossa Senhora de
Lourdes”
PROPÓSITO DO MÊS
MEDITAR E REFLETIR:
...Maria,
aos pés da cruz, perdendo o Filho, perderá tudo, e, todavia tudo reaverá
tornando-se a Mãe da Igreja, corpo do Cristo glorioso. A lei da espada
evangélica é a do perder para encontrar, da pobreza total para obter a
verdadeira riqueza, do abandono a Deus na fé para ser plenamente saciado,
consolado, salvo.
INTENSÃO MENSAL
Oferecimento
do Santo Terço à Santíssima Virgem Maria, pelo acolhimento generoso das vítimas
do tráfico de pessoas, da prostituição forçada e da violência - Papa
Francisco.
PARA APROFUNDAR:
Os
Rostos de Maria na Bíblia – Gianfranco Ravasi
*A obra que ilustra o Tema Mensal - Fevereiro
2019, é de Marko Rupnik - “Apresentação do Senhor no Templo” e está no Santuário
Saúde dos Enfermos - Vicenza – Itália.
M.C.V.F.